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domingo, 24 de fevereiro de 2019

O que se pode aprender sobre buracos negros ao simulá-los em um tanque d'água?

imagem do experimentoDireito de imagem Silke Weinfurtner/Universidade de Nottingham Image caption Ralo no fundo do tanque de água possibilita a formação de um vórtice, como um análogo de buraco negro com rotação
Estudar buracos negros não está entre as tarefas mais fáceis da ciência. Além de não ser possível observá-los diretamente, esses estranhos objetos cósmicos, de cuja monumental força gravitacional nem a luz escapa, não podem ser recriados em laboratório. Se isso fosse possível e realizado, o próprio laboratório, seu ousado pesquisador, o planeta e até o Sistema Solar e adjacências seriam completamente engolidos. 

Para contornar essa pequena dificuldade, cientistas estão recorrendo a uma solução engenhosa: simular esses monstros vorazes num tanque de água, com um ralo no meio. É o que vem fazendo o grupo da física alemã Silke Weinfurther, da Universidade de Nottingham, Reino Unido, do qual participa o físico brasileiro Maurício Richartz, da Universidade Federal do ABC (UFABC), em Santo André (SP).
"Basicamente, utilizamos um tanque de água com um ralo no fundo, que possibilita a formação de um vórtice (líquido que gira em torno de um eixo e depois escoa pelo ralo), o que constitui um análogo de buraco negro com rotação", conta Richartz. "Análogo, aqui, quer dizer que as equações que descrevem a propagação de ondas no sistema que montamos no tanque são iguais às que descrevem aquelas em torno de um buraco negro real."
Entre os sinais de identidade mais característicos que denunciam a existência de um desses objetos cósmicos está o horizonte de eventos. Trata-se de uma esfera, uma fronteira, que engloba uma região do espaço da qual nada (nem mesmo a luz) consegue escapar. Em volta dela, existe a ergosfera. "A rotação do buraco negro faz com que todo o espaço a seu redor seja 'arrastado' junto com ele", explica Richartz. "Portanto, a ergosfera é uma região na qual tudo é 'obrigado' a girar junto com ele, acompanhando seu movimento de rotação."
No caso do vórtice de um ralo, onde a água está girando em torno dele, não há a rigor horizonte de eventos e ergosfera, mas análogos dessas regiões. "Basicamente, à medida que nos aproximamos dele, primeiro encontramos o análogo da ergosfera, que é a região na qual as ondas na água são obrigadas a girar junto com o vórtice", diz Richartz. "Se nos aproximarmos mais ainda, encontramos o análogo do buraco negro e do horizonte de eventos, que é a região da qual elas não conseguem mais escapar, sendo obrigadas a escoar pelo ralo."

'Intimidade' com objetos cósmicos

Mas o que se pode aprender sobre os buracos negros num tanque de água? "Antes de mais nada, é preciso ter em mente que não estamos trabalhando com um astro real. Portanto, por mais que observemos na água um fenômeno que também ocorre num desses objetos cósmicos, nunca poderemos dizer que detectamos tal fenômeno neles", afirma Richartz.
De acordo com o também físico Alberto Vazquez Saa, do Departamento de Matemática Aplicada, do Instituto de Matemática Estatística e Ciência da Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que se pode aprender sobre buracos negros num tanque de água são, basicamente, insights.
"Usamos os análogos para ganhar intimidade com esses objetos cósmicos, algo obviamente impossível de ser feito de outra maneira", explica. "Ninguém espera desprovar Einstein usando um tanque de água. O que queremos é ganhar intuição, no entanto, para poder entender mais a fundo o buraco negro real e eventualmente provar ou desprovar algo sobre a Teoria da Relatividade."
Mesmo assim, o trabalho de Silke e seus colaboradores não resultou apenas em insights. Ele trouxe novos conhecimentos concretos sobre pelo menos dois fenômenos que ocorrem em buracos negros, a superradiância e o relaxamento. Sobre o primeiro, foi publicado em junho de 2017 um artigo científico na Nature Physics, que tem Richartz entre seus autores. De acordo com ele, a grande novidade da pesquisa é que foi a primeira vez que a superradiância foi detectada em laboratório.
imagem do experimentoDireito de imagem Silke Weinfurtner/Universidade de Nottingham
Image caption Pesquisadores misturaram água a corante verde fluorescente para observar movimento, alterações na velocidade e tamanho das ondas

Tanque com corante verde

Para realizar os experimentos, os pesquisadores construíram um tanque de acrílico com 3 m x 1,5 m, o qual encheram de água misturada a um corante verde fluorescente. Para observar o movimento e as alterações na velocidade e tamanho das ondas, eles usaram uma câmera 3D de alta resolução, que filmou os movimentos da água e vórtice no ralo. Os efeitos detectados foram pequenos, mas suficientes para que os cientistas pudessem imaginar o que ocorre com a luz ao redor de um buraco negro em rotação.
A superradiância é um fenômeno descoberto em 1971 pelo físico russo Yakov Borisovich Zeldovich - e que talvez ocorra nos buracos negros. Richartz explica que, na Terra, normalmente, quando uma onda - de água, por exemplo - interage com algum obstáculo, ela é parcialmente refletida e parcialmente transmitida. A energia carregada por ela é, após a interação com o obstáculo, dividida: parte fica com a refletida e parte fica com a transmitida.
Se o obstáculo for algo que gira, no entanto, (por exemplo, um cilindro ou uma esfera), é possível que a onda refletida tenha mais energia que a incidente. "Nesse caso, a (energia) extra que aparece na que se reflete vem da rotação do obstáculo", diz. "Por isso, no final do processo, ele passa a girar mais devagar, pois acabou transferindo parte de sua energia de rotação para a onda. Chamamos esse fenômeno de superradiância rotacional."
Em teoria, ela ocorre também para buracos negros em rotação, quando eles são atingidos por ondas gravitacionais ou eletromagnéticas. Nesse caso, eles também passariam a girar mais lentamente. "Até muito recentemente, a superradiância rotacional nunca havia sido observada em laboratório", revela Richartz. "Nosso experimento teve como objetivo fazer a primeira detecção do fenômeno, e conseguimos isso."

'Corda esticada'

No caso do relaxamento, que rendeu artigo na Physical Review Letter em agosto de 2018, Saa explica que é um termo genérico para descrever qualquer regime transiente (transitório). "É o caso de uma corda esticada e paradinha, por exemplo", diz ele, que coordena o Projeto Temático "Física e geometria do espaço-tempo", da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que financiou parte do trabalho de Richartz.
"Essa é sua situação de equilíbrio. Quando alguém a dedilha, no entanto, ela começa a vibrar, e a vibração vai diminuindo até parar. Essas vibrações atenuadas são o regime transiente, o relaxamento da corda."
Em analogia, o buraco negro, ou o fluxo com vórtice, é a situação de repouso. "Se forem perturbados um pouquinho, eles irão vibrar, mas com o tempo voltarão ao estado de equilíbrio", explica Saa. "Vórtices e buracos negros com rotação relaxam da mesma maneira. Por certo, com um sino também ocorre o mesmo, e seu som nada mais é do que energia emitida na fase de relaxamento."
imagem do experimentoDireito de imagem Silke Weinfurtner/Universidade de Nottingham
Image caption Se fosse viável, criar um buraco negro de verdade em laboratório colocaria em risco o Sistema Solar inteiro
Richartz explica o mesmo fenômeno com outras palavras. De acordo com ele, quando um buraco negro se forma, pela fusão de outros dois ou pelo colapso gravitacional de uma estrela supermassiva, ele não está em equilíbrio. "Ele está deformado ou vibrando e possui mais energia do que deveria", diz. "Ela precisa ser eliminada de alguma forma. O relaxamento é o processo pelo qual libera essa energia extra até chegar a um estado de equilíbrio."
Ele também usa o sino de igreja como analogia. "Quando o tocamos, transferimos energia para ele e, assim, o tiramos do equilíbrio", explica Richartz. "Para voltar à situação anterior, que é seu estado natural, ele vibra e emite ondas sonoras cujas intensidades vão diminuindo com o passar do tempo, à medida que vai voltando ao repouso. No caso do buraco negro, em vez de ser por meio de ondas sonoras, a energia é liberada por ondas gravitacionais."
No caso do vórtice de um ralo a história do relaxamento para voltar ao equilíbrio é igual. A diferença é que a energia é liberada por meio de ondas de água em vez de gravitacionais. "Em princípio, por meio delas é possível identificar completamente o buraco negro, ou seja, seu tamanho, massa e velocidade de rotação. No caso do vórtice, também podemos relacionar as oscilações da água emitidas com características dele, como, por exemplo, o tamanho do ralo e velocidade da água."


fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-47312607

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Energia Solar - Cientistas criam líquido que armazena energia solar por quase 20 anos


NASA
A energia solar é um tipo de energia "verde" que ainda será muito explorada pela humanidade, mas uma verdade sobre ela é que armazená-la de maneira eficiente e a longo prazo ainda é algo bastante caro — um grande impeditivo para sua adoção em larga escala, inclusive. Mas cientistas da Suécia acreditam ter uma possível solução: eles desenvolveram um fluido especial que foi chamado de "combustível solar térmico", capaz de armazenar energia solar por até 18 anos.
"Um combustível térmico solar é como uma bateria recarregável, mas, em vez de eletricidade, você coloca luz solar e aquece, acionando sob demanda", explica Jeffrey Grossman, engenheiro que trabalha com esses materiais no MIT. Esse fluido, na verdade, é uma molécula em sua forma líquida na qual os cientistas da Chalmers University of Technology, na Suécia, vêm trabalhando para aprimorar há mais de um ano.
Tal molécula é composta de carbono, hidrogênio e nitrogênio e, quando é atingida pela luz do Sol, acontece o seguinte: as ligações entre seus átomos são rearranjadas e se transformam em uma nova versão energizada chamada de isômero. E, assim como uma presa capturada em uma armadilha, a energia do Sol, então, é capturada pelas ligações químicas do isômero, permanecendo ali mesmo após o resfriamento da molécula à temperatura ambiente.

Para gerar, então, energia elétrica para, por exemplo, um aquecedor doméstico, o fluido é extraído de um catalisador que retorna a molécula à sua forma original, processo em que há liberação de energia na forma de calor. "E quando chegamos a extrair a energia para usá-la, conseguimos um aumento de calor que é maior do que ousamos esperar", disse Kasper Moth-Poulse, cientista que participou do estudo.
(Imagem: Chalmers University of Technology)
Durante os testes, a equipe criou um protótipo desse sistema inovador de energia, colocando-o no telhado de um prédio da universidade. O aparato é composto por um refletor côncavo com um tubo no meio, que rastreia o Sol como uma espécie de antena parabólica. Aquecido pela luz solar, o fluido que fica em tubos transparentes transforma a molécula em seu isômero, aprisionando o calor, com o fluido, então, sendo armazenado à temperatura ambiente com perda mínima de energia durante o processo.
Segundo os pesquisadores, os resultados promissores inclusive já chamaram a atenção de diversos investidores não somente por sua eficiência, como também pelo fato de ser livre de emissões prejudiciais ao meio-ambiente. A ideia é usar essa tecnologia em sistemas domésticos de aquecimento, alimentando, por exemplo, aquecedores de água de um edifício, além de máquinas de lavar louças e secadoras de roupas. A equipe, confiante, acredita que a tecnologia possa ser disponibilizada para uso comercial dentro de dez anos.
A quem ficou curioso, o estudo foi publicado na revista Energy & Environmental Science.

fonte: https://canaltech.com.br/meio-ambiente/cientistas-criam-liquido-que-armazena-energia-solar-por-quase-20-anos-126391/

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Artigo - Vantablack - Prédio feito com "material mais escuro do mundo" criará um 'buraco no espaço'

O arquiteto Asif Khan decidiu usar o Vantablack para criar prédio que pretende ser uma experiência filosófica para os visitantes; material com nanotubos é o mais próximo que chegamos dos buracos negros do universo



Arquiteto promete criar um
Creative Commons/Wikimedia
Arquiteto promete criar um "buraco no espaço" na próximas Olimpíadas de Inverno com o material mais escuro do mundo


Você conhece o Vantablack? O material, considerado o mais escuro do mundo, consegue absorver 99,96% da luz que atinge a sua superfície. Comparado a “coisa mais próxima de um buraco negro” que poderemos ver, o material está próximo de ser usado para uma estrutura surpreendente. Isso porque, para as Olimpíadas de Inverno da Coreia do Sul, em 2018, um arquiteto está usando o Vantablack para construir um prédio apelidado de “do espaço”. Ficou curioso?

O arquiteto Asif Khan explicou para a CNN que a construção, que será inaugurada no complexo esportivo das próximas Olimpíadas de Inverno , pretende “criar a experiência de observar as profundezas do universo” com o material, composto de nanotubos de carbono. Apesar das quatro paredes curvadas, o prédio, visto a uma certa distância, passará a impressão de ser uma fenda negra com milhares de pequenas luzes imitando as estrelas.
"Quanto mais perto você chegar da estrutura, as 'estrelas' vão começar a parecer maiores até preencherem todo o seu campo de visão. E então vai parecer que você está sendo absorvido por uma nuvem de escuridão", Khan descreveu.
O arquiteto ainda explicou que, junto do 'infinito branco' do complexo esportivo de inverno, sua invenção quer provocar uma experiência filosófica ao apresentar aos visitantes um "vazio de infinita profundeza e possibilidades".

O Vantablack

Criado há três anos por cientistas britânicos da Surrey NanoSystems, o material é tão escuro a ponto do olho humano não conseguir decifrar para o que está olhando. E isso acontece porque o Vantablack não é uma cor. Na realidade, ele é a quase completa ausência de cor.
Originalmente desenvolvido para a engenharia espacial, o material tem esta peculiaridade explicada por Ben Jensen, co-fundador da empresa do Reino Unido. "Quando não há luz refletida de volta para o observador, você não vê nada e seu cérebro entende essa ausência como a cor preta", disse à CNN. 
Seu nome foi criado apartir da expressão  Vertically Aligned NanoTube Arrays (Conjunto de Nanotubos Verticalmente Alinhados) e palavra black , ou seja, preto.  E para explicar o seu mecanismo, Jensen descreveu que um centímetro quadrado de Vantablack consiste em cerca de um bilhão de nanotubos de carbono espaçados de forma perfeita. Assim, quando a luz chega a sua superfície, ela fica "presa" e é convertida em calor.

Diferentes formas de aplicação

Além de ser matéria-prima para o prédio "revolucionário" de Asif Khan, as características peculiares do Vantablack – como a mudança nas leis fundamentais de percepção, também atraíram outras empresas.
Uma companhia na Suécia, por exemplo, está usando o material para revestir o interior de telescópio óptico. Acoplado a um microsatélite, assim ele poderá bloquear as luzes provenientes do sol e da cidade.
"Nós queríamos garantir que a luz captada pelo telescópio virá da atmosfera, e não de outras fontes indesejadas", o engenheiro Arvid Hammer, da Omnisys Instruments, explicou. Desta forma, pesquisas científicas poderão ter imagens mais claras da atmosfera e melhores dados que podem melhores os atuais modelos climáticos.

Porém, não só ideiais revolucionárias, como as do telescópio e do prédio para as Olimpíadas de Inverno, são ouvidas por Jensen e sua equipe. Ele revelou que já recebeu propostas muito peculiares, como a de uma pessoa que queria comer um pedaço do Vantablack e filmar a ação para publicar no Youtube. "Obviamente, essa não é uma boa ideia", advertiu.

    segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

    Gastronomia Molecular -

    Definição de Gastronomia Molecular

    A gastronomia molecular é um ramo da ciência dos alimentos, cujo objectivo é analisar do ponto de vista científico, os fenómenos que ocorrem quando se cozinha e se degustam os alimentos.
    Distingue-se das ciências alimentares tradicionais pelo facto de o seu objecto de estudo serem as preparações em pequena escala, e por considerar a alimentação como um todo: os ingredientes crus, a preparação e a forma como são apreciados pelos consumidores.
    É assim uma área de estudos interdisciplinar que envolve a física, a química, a biologia, a bioquímica, envolvendo também a fisiologia, a psicologia e a sociologia.
    A gastronomia molecular estuda todos os tipos de cozinha e o conhecimento que é obtido permite compreender e melhorar também todas as cozinhas, das mais tradicionais às mais vanguardistas, em qualquer país ou continente. Para além da sua contribuição para optimizar resultados, o conhecimento que é produzido por esta ciência permite também a introdução de técnicas culinárias inovadoras.
    A gastronomia molecular tem cinco objectivos sendo eles:
    1-     Criação de uma antropologia culinária – relacionar e explorar física e quimicamente as “dicas” culinárias;
    2-     Introdução de matemáticas culinárias – modernização de práticas culinárias visando o aperfeiçoamento;
    3-     Experimentação – introdução de instrumentos, métodos e ingredientes novos na cozinha;
    4-     Inovação – criação de novos pratos com base na análise de iguarias clássicas;
    5-     Divulgação – apresentação da ciência ao público, considerando as práticas culinárias.  







    Definição de Cozinha Molecular

    A culinária é uma arte, mas para além disso também é uma ciência.
    As receitas, dicas e truques que são utilizados na preparação dos pratos, quer sejam dos mais simples aos mais sofisticados, são o resultado de vários processos físicos e químicos. No entanto raramente pensamos nesses processos quando estamos a confeccioná-los ou mesmo a saboreá-los.
    Assim sendo, podemos dizer que a “Cozinha Molecular” é uma nova tendência culinária na qual se aplicam os conhecimentos obtidos pela “Gastronomia Molecular”, para a elaboração dos seus pratos.
    Com base nesses conhecimentos usam-se aditivos químicos naturais para modificar a textura e a forma dos alimentos.






    Cozinha Molecular versus Gastronomia Molecular

                A gastronomia molecular é o estudo científico dos processos químicos e físicos que ocorrem durante a confecção. Possibilita a criação de novos métodos, técnicas e equipamentos, aperfeiçoando os já existentes.
    Estamos perante um novo ramo da ciência que trata dos alimentos e da alimentação como um todo. No fundo, a gastronomia molecular é a aplicação de princípios científicos para compreender e aperfeiçoar os processos envolvidos na preparação dos alimentos nas cozinhas.
    Actualmente encontramos os cientistas não somente nos grandes laboratórios da indústria alimentar, mas também a trabalhar em parceria com chefes de cozinha.
    O termo “molecular” nada tem a ver com artificial, indica apenas que a constituição dos alimentos é considerada a um nível mais aprofundado.
    Uma confusão comum da nossa sociedade em geral é a que torna sinónimo gastronomia molecular e cozinha molecular; a gastronomia molecular é direccionada para os cientistas e a cozinha molecular é mais direccionada para os cozinheiros.   
    Por outro lado, a cozinha molecular é a nova tendência culinária que utiliza as novas ferramentas, ingredientes e métodos desenvolvidos através das pesquisas da gastronomia molecular, inovando assim os pratos.




    Evolução Histórica da Cozinha Molecular

                Há centenas de milhares de anos o homem dominou o fogo e passou a usá-lo como o primeiro método de transformação dos alimentos. Há cerca de mil anos, assávamos um frango exactamente como fazemos hoje em dia, muito pouco mudou desde a Idade Média.
    O ser humano, por natureza, tem um certo receio de inovar e do que não conhece ou não compreende. Isso também se aplica à alimentação! Hoje em dia o sushi e sashimi são pratos que já fazem muitas vezes parte da ementa do nosso dia-a-dia, mas no entanto há 10 ou 15 anos atrás ninguém se sujeitaria a comer uma fatia de peixe cru.
    Para contornar esse receio basta provar uma fatia de peixe de qualidade, para que esse tipo de alimento já não volte a ser visto como diferente ou estranho novamente.
    Historicamente a Gastronomia Molecular não tem uma data concreta do seu aparecimento e desenvolvimento, no entanto as datas mais encontradas falam entre 1908 e 1998.
    Hervé This começou as suas investigações à cerca de 20 anos, e a sua finalidade era exclusivamente académica e científica, sem vínculo com a aplicação na cozinha prática.
    O assunto gerou um enorme interesse que rompeu as fronteiras do laboratório. Os grandes fundadores desta ciência foram Nicholas Kurti e Hervé This.
    Ambos exploraram a cozinha como se esta fosse um laboratório, dedicando-se à especulação e ao conhecimento dos processos físicos e químicos, bem como às consequências de um ritual tão comum como é cozinhar.
    Eles testaram receitas tradicionais de vários países europeus através de métodos científicos para saber se a quantidade de ingredientes usada era a mais harmoniosa e se a forma de preparação era a mais adequada.

    O movimento que deu origem ao ramo das ciências chamado “Gastronomia Molecular” teve início em 1988, quando o físico Nicholas Kurti e o químico Hervé This iniciaram uma colaboração com o objectivo de estudar os processos químicos e físicos que ocorriam na confecção dos produtos.
    Tal veio mostrar que muitos dos truques de cozinha, resultantes de uma aproximação experimental ao longo de séculos, podiam ser explicados cientificamente com base na composição dos alimentos e alterações físicas e químicas que ocorriam na sua preparação.
    A este ramo da ciência dos alimentos chamaram “Gastronomia Molecular” cujo objectivo principal é a aplicação de princípios científicos para a compreensão de processos envolvidos na preparação dos alimentos nas cozinhas domésticas ou de restaurantes.
    Os desenvolvimentos alcançados pela Gastronomia Molecular podem ainda ser usados para o desenvolvimento de novas técnicas culinárias, introdução de novos ingredientes ou equipamentos ou na invenção/criação de novos pratos, permitindo um processo criativo mais elaborado e sofisticado.
    O trabalho desenvolvido por estes dois cientistas despertou o interesse de outros profissionais do mesmo ramo e de chefes de cozinha. Surgiram então novos grupos de investigação noutras partes do mundo. Através destes foi então reconhecida a importância da aproximação científica da cozinha e a necessidade de colaboração entre cientistas e cozinheiros de forma a optimizar resultados.
    Também em Portugal recentemente um grupo de cientistas se tem interessado pela Gastronomia Molecular, inicialmente em colaboração com a “Agência Ciência Viva”, com o objectivo de promover o interesse e o gosto pela ciência divulgando-a e posteriormente para ajudar o público a compreender como a ciência está presente no quotidiano e contribui para o bem estar da sociedade. 




    Importância da Cozinha Molecular

                Nos últimos anos a atitude perante a cozinha e a comida foi radicalmente alterada, as pessoas querem ser surpreendidas e querem aventura. O objectivo das cozinhas mais inovadoras é assim desafiar os sentimentos e a imaginação de forma a maximizar sensações.
    A introdução destas novas técnicas permite introduzir características estéticas e até lúdicas nos pratos que de outra forma não se podem obter.
    Nestes últimos anos têm sido postos à disposição dos cozinheiros um conjunto de produtos usados pela indústria alimentar há décadas, mas que ainda, não tinham chegado às cozinhas como é o caso dos espessantes, gelificantes, emulsionantes, enzimas e liofilizados, o uso de azoto líquido ou de novos equipamentos de cozinha como por exemplo os banhos termostatizados, máquinas de vácuo ou destilação. Estes equipamentos e ingredientes permitem alterar texturas e introduzir características inovadoras nos pratos. 
    Vantagens da cozinha molecular:
    è Beneficia o aperfeiçoamento das criações, o desenvolvimento de novas técnicas culinárias, permitindo antever o comportamento dos alimentos;
    è Permite demonstrar cientificamente se os procedimentos que aplicamos na cozinha ao longo das gerações são as mais correctas ou não, no fundo permite testar os alimentos e as receitas procurando perceber o que há de certo e errado no seu processo de elaboração e confecção;
    è Envolve novas combinações de ingredientes e novos métodos de preparação, logo para a cozinha molecular quase nada é impossível de realizar;
    è Permite cozinhar a vácuo, em banhos termostatizados, liofilizar alimentos e utilizar ingredientes menos usuais que nos parecem estranhos no nosso dia-a-dia, sendo a cozinha mais moderna da actualidade.





    Importância do Equilibrio Nutricional de um Prato
    Tal como a satisfação e o bem estar do cliente, o equilíbrio nutricional de um prato também é muito importante pois é necessário a criação harmoniosa e nutricional.  A utilização de vegetais e frutos da época, assim como alimentos de grande qualidade e frescura entram nas cartas primeiro, sendo os molhos pesados substituidos por espumas e espessantes como a farinha, por outros mais light e de origem  vegetal que se vão começando a falar actualmente tal como metilcelelulose, xantano, alginato, lecitina, agar, entre outros.
    Assim, são utilizados produtos alternativos e novas tecnologias que permitem outro tipo de transformações dos alimentos, cozinhando-os de uma forma mais eficiente e mais saudável.
    A cozinha molecular é uma cozinha muito equilibrada, com menos gordura, mais limpa e com maior delicadeza, onde existe uma procura constante da obtenção dos sabores mais harmoniosos e originais.
    Uma alimentação saudável é:
    Completa – comer alimentos de cada grupo e beber água diariamente;
    Equilibrada – comer maior quantidade de alimentos pertencentes aos grupos de maior dimensão e menor quantidade dos que se encontram nos grupos de menor dimensão, de forma a ingerir o número de porções recomendado;
    Variada – comer alimentos diferentes dentro de cada grupo variando diariamente, semanalmente e nas diferentes épocas do ano.

    Ingredientes da Cozinha Molecular

    Para além dos ingredientes específicos da cozinha molecular, podemos utilizar qualquer alimento da Roda dos Alimentos. Cada um dos grupos apresenta funções e características específicas, pelo que todos eles devem estar presentes na alimentação diária.
    A Roda dos Alimentos é composta por 7 grupos de alimentos, agrupados mediante a sua composição nutritiva.
    è Cereais, derivados e tubérculos - 28%
    è Hortícolas - 23%
    è Fruta - 20%
    è Lacticínios - 18%
    è Carnes, pescado e ovos - 5%
    è Leguminosas - 4%
    è Gorduras e óleos - 2%




    Os ingredientes específicos da cozinha molecular não são mais do que produtos químicos que, por reacções químicas, alteram a forma e textura dos ingredientes da cozinha tradicional.
    Assim, estes produtos não são mais do que aditivos alimentares.
    Aditivo alimentar é a substância que é adicionada aos alimentos, especialmente durante o seu processamento, tendo em vista o seu aperfeiçoamento, nas funções conservantes, antioxidantes, aromatizantes, espessantes, corantes entre outras. 
    Podemos classificar estes ingredientes em categorias tais como:
    Gelificantes – substâncias que produzem a consistência de gel.    
    -Goma Gelana
    -Agar Agar
    -Gelatina (Bloom 180)
    Esferificantes – substâncias que dão forma esférica aos ingredientes.
    -Alginato de Sódio
    -Cloreto de Cálcio
    -Citrato de Sódio
    -Lactato de Cálcio
    -Gluconato de Cálcio
    -Isomalte  
    Espessantes – substâncias usadas na indústria alimentar para tornar mais espesso.
    -Ultra-Sperse-M
    -Goma Xantana
    -Goma Guar

    Emulsificantes substâncias capazes de formar emulsões.  
    -Lecitina de Soja
    -Mono e Diglicerídeos
    -Maltodexterina N-Zorbit
    Estabilizantes – contribuem para dar uniformidade ou consistência a preparados.
    - Transglutaminase

    Goma Gelana
    Definição
    É um polissacarídeo, desenvolvido recentemente por meio de fermentação, a partir de uma planta aquática chamada Elodea.
    Ocorrência
    Apresenta-se na forma de pó.
    Propriedades
    Forma gel ou gomas resistentes ao ácido, calor e enzimas na presença de iões mono ou bivalentes. A gelificação produz-se por dispersão em água quente, a cerca de 70º C, e reage mesmo a baixas concentrações. Os géis resultantes têm um baixo carácter sólido, têm uma transparência e são relativamente estáveis ao calor e a um pH de 3 a 10.
    Aplicações  
    Devido às suas propriedades, as gomas gelanas podem ser usadas em muitas receitas alimentares.
    Uso   
    Preparações de frutas, sobremesas, doces e produtos gelatinosos como as geleias de frutas.
    Dosagem 
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas.
    Modo de preparação
    Mexer bem durante 10 minutos para obter uma boa homogeneidade.

    Agar Agar
    Definição
    É um polímero composto de subunidades de galactose, é pois um carboidrato grosso da classe dos polissacarídeos. É extraído de uma alga vermelha proveniente da costa do norte de África e dos mares do sul da Europa, do Chile e da Ásia. As algas são colhidas, depois são secas, moídas e lavadas.
    É composto principalmente por fibras, sais minerais, celulose e uma pequena quantidade de proteínas.
    Ocorrência    
    É apresentado na forma de pó branco a amarelo ou como tiras de algas secas.
    Propriedades  
    É um hidrocolóide, digerível, insolúvel em água fria. Expande-se consideravelmente e absorve uma quantidade de água de cerca de vinte vezes o seu próprio peso, formando um gel não-absorvível e não fermentável. Toma consistência gelatinosa, pois possui capacidades parecidas com a da gelatina. Necessita de calor para se dissolver melhor, mas a temperatura ambiente já demonstra uma boa acção de gelificação.
    O gel do agar têm uma característica única pois ele torna-se solúvel entre os 90º C e 95º C. O gel feito a partir do agar derrete-se na boca, libertando os sabores que foram incorporados.
    Aplicações 
    É um dos principais agentes gelificantes de alimentos. Produz um gel duro quebradiço, transparente e neutro que resiste a um pH ácido até 3.5. Pode ser usado em vez da gelatina animal. Devido às suas propriedades é indispensável para modificar a estrutura de cremes e mousses quentes.
    Uso
    O agar tem vindo a substituir a tradicional gelatina, como parte integrante de outras sobremesas, sendo difundido em grande escala na cultura oriental. É com o agar que é feito o spaghetti de parmesão ou de qualquer outro tipo de líquido e o caviar de maracujá que fica semi-sólido, ou seja quando se corta a esfera o líquido não sai.
    Dosagem    
    Deve ser usado a uma concentração de 2 a 10 g/kg de solução.
    Modo de preparação  
    Dissolver em água quente, adicionar agentes adoçantes, corantes, aromas e pedaços de fruta. Verter a mistura em formas onde arrefece tomando a forma desejada.
    Adicionar agar quando a solução tiver chegado a 90º C.

    Gelatina (Bloom 180)
    Definição
    Tem origem animal. É um produto obtido da hidrólise parcial do colágeno, extraído geralmente da pele e dos ossos de animais. Os tipos de gelatina preferidos são os de porcos e de bezerro.
    Ocorrência
    A gelatina apresenta-se em folhas, escamas, fragmentos, pó fino ou grosso. É branca ou levemente amarelada, de odor e sabor característicos pouco acentuados.
    Propriedades 
    É frequentemente usada como um agente espessante. As suas moléculas grandes são flexíveis e são hidrofílicas, e devido à sua estrutura dão firmeza às substâncias. É o mais conhecido gelificante, composto basicamente de colágeno, ou seja, proteína. Necessita de calor para se dissolver melhor, porém em temperaturas mais baixas potencializam a acção gelificante.
    Aplicação      
    Tem aplicação na gelificação.
    Uso
    Basicamente dá para quase tudo, além de também ser usado em espumas.
    Dosagem
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas. 
    Modo de preparação
    Dissolver mediante aquecimento. 
    Alginato de Sódio
    Definição
    É um sal orgânico derivado de carboidratos do tipo fibra. É extraído de algas marrons (Macrocytis, Fucus, Laminaria ascophilum) encontradas em mares e oceanos frios.
    Ocorrência
    O alginato de sódio ocorre como pó fino ou grosso de cor branca a branco-amarelada, sem sabor e quase inodoro. É bastante hidrossolúvel, formando uma solução coloidal viscosa; é assim um agente suspensor.
    Propriedades
    É um hidrocolóide e agente gelificante, pois tem propriedades úteis para a formação de géis.
    Aplicações
    Tem aplicação na gelificação; para gelificar, o alginato de sódio deve reagir com iões cálcio, assim, um gel termo irreversível será formado.
    Devido às suas propriedades químicas, o alginato reage com o cálcio (ou com outros elementos parecidos com o cálcio) o que resulta na formação da película que reveste as esferas resultantes da esferificação.
    Na esferificação básica trabalha-se com proporções de 0,4% a 0,7% de alginato de sódio no produto.
    Uso
    É usado na indústria alimentar como aditivo estabilizante para alterar a viscosidade em sorvetes, leite com chocolate, molhos de salada, glacês e em outras variedades semelhantes; como gelificante em géis e pudins; como agente de suspensão e espessante em sumos de frutas e outras bebidas; como estabilizante de espuma em cerveja; como emulsionante em molho e como agente formador de revestimento de carne, peixe e outros produtos.
    Dosagem
    O uso do alginato deve ser feito a uma concentração entre 2 a 10 g/kg de solução.
    Modo de preparação
    Método clássico de esferificação: dissolver o alginato no líquido com o qual se pretende fazer as esferas, dissolver o cloreto de cálcio em água, na qual se deve gotejar a mistura de alginato na água com o cloreto de cálcio.


    Cloreto de cálcio
    Definição
    É um sal de cálcio solúvel em água, produzido directamente a partir da pedra calcária.
    Ocorrência
    Ocorre no estado sólido à temperatura ambiente, na forma de cristais ou prismas de cor branca ou incolor. É inodoro e tem gosto extremamente salgado.
    Propriedades
    É uma fonte ideal de iões cálcio. Absorve a humidade do ar e dissolve-se nela, une os ingredientes evitando que a água se separe da mistura. É um aditivo acelerador pois acelera eficientemente as reacções iniciais de hidratação.
    Aplicações  
    O cloreto de cálcio tem aplicação na gelificação, é estritamente para uso com o alginato, os iões cálcio reagem com este ingrediente para formar géis. Esconde do sabor a acidez do ketchup mas não a elimina pois a acidez impede os microrganismos.
    Uso 
    É usado na indústria alimentar como aditivo na gelificação para reagir com o sal alginato. Fora da cozinha aparece no extintor de incêndio.
    Dosagem
    A dosagem é de 10 a 40 g/L dependendo da velocidade de reacção desejada. A concentração pode ser elevada para 80 a 120 g/L.
    Modo de preparação
    Dissolver o cloreto de cálcio em água.


    Citrato de Sódio
    Definição
    É um sal de sódio, produzido a partir do ácido cítrico por neutralização total com uma fonte de sódio de alta pureza.
    Ocorrência
    O citrato de sódio ocorre como pó fino branco ou como cristais incolores, é inodoro e tem um sabor salgado.
    Propriedades 
    Tem natureza estabilizante ou emulsionante, favorece e mantém as características físicas das emulsões e suspensões.
    Aplicação 
    Em receitas que utilizem alginato.
    Uso 
    É usado como aditivo em certas variedades de soda, e é comum como ingrediente em refrigerantes de limão, lima e citrinos, contribuindo com seu o gosto ácido. Pode também ser encontrado em refrigerantes energéticos, e é usado para controlar a acidez em algumas substâncias, tais como sobremesas de gelatina. Pode também ser encontrado nas pequenas embalagens de leite usadas em máquinas de café.
    Dosagem
    A dosagem é de 0,5 a 2 g/L.

    Lactato de Cálcio
    Definição
    É um sal de cálcio, produzido a partir do ácido 2-hidroxipropanóico por fermentação. É solúvel em água e praticamente insolúvel em álcool.
    É uma pequena molécula de peso similar a um dissacarídeo.
    Ocorrência  
    Apresenta-se em pó, ligeiramente granulado, de cor branca e florescente, sem sabor.
    Propriedades
    Não é higroscópio. É recomendado como fonte de cálcio e é menos solúvel que o cloreto de cálcio.
    Aplicação
    Tem aplicação na gelificação. Fornece cálcio para reagir com o alginato permitindo a formação de gel sem aquecimento. É um repositor de cálcio nas bebidas e alimentos, e utilizado na produção de formas de esparguete.
    Uso
    Na mistura com o gluconato de cálcio reage com o alginato no processo de esferificação inversa.
    Dosagem
    Deve ser usado na concentração de 1 a 9%.
    Modo de preparação
    Dissolver lactato de cálcio e gluconato de cálcio no líquido com o qual se pretende fazer as esferas, adicionar gota a gota essa mistura à mistura do alginato.

    Gluconato de Cálcio
    Definição
    É um sal de cálcio, solúvel em água e insolúvel em álcool. É produzido a partir do ácido glucónico por fermentação. É um suplemento mineral.
    Ocorrência 
    Apresenta-se na forma de pó ou granulado, cor branca ou branco sujo e é inodoro.
    Propriedades
    Tem propriedades úteis para a formação de géis.
    Aplicações
    Tem aplicação na gelificação, os iões reagem com o alginato de sódio e soluções de gelana para formar géis. É a forma de cálcio mais utilizada no tratamento da hipocalcemia.
    Uso 
    É usado na indústria alimentar como aditivo na gelificação para reagir com o sal alginato.
    Dosagem 
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas.
    Modo de preparação
    Dissolver gluconato de cálcio e lactato de cálcio no líquido com o qual se pretende fazer as esferas, e adicionar essa mistura gota a gota à mistura de alginato.

    Isomalte
    Definição
    É um açúcar modificado obtido por processos químicos e enzimáticos a partir do açúcar normal (sacarose de beterraba). Consiste numa mistura de mono e dissacarídeos hidrogenados.
    Ocorrência 
    Apresenta-se como uma massa cristalina de cor branca, inodora e de sabor adocicado.
    Propriedades
    Solúvel em água, muito ligeiramente solúvel em álcool e derrete a 180º C. É um açúcar com propriedades diferentes do açúcar normal, pois só parte é que é degradado pelo organismo e é também um açúcar que absorve pouca água. Tem um índice calórico baixo, sendo a sensação na boca de um açúcar menos doce, por isso é vantajoso o uso deste açúcar, assim os produtos com o isomalte não ficam pegajosos e são mais estáveis. Este açúcar não carameliza e não estraga os dentes devido ao facto de os microrganismos não o degradarem.
    Uso
    É usado relativamente em cozinhas, principalmente nas pastelarias. Pode ser trabalhado produzindo assim caramelos mais estáveis, mais duros e incolores.
    Dosagem   
    Deve ser consumido com alguma moderação, menos de 50 g por dia, visto que o organismo não o absorve totalmente o que pode tornar-se num laxante.


    Ultra-Sperse-M
    Definição
    É um carboidrato constituído por cadeias de a-D-glicose. A sua estrutura é constituída por dois polímeros, a amilose e amilopectina, sendo que as cadeias destas são ramificadas, dependendo da planta. Geralmente a percentagem é de 20 a 25 de amilose e 75 a 80 de amilopectina.
    Ocorrência  
     Apresenta-se sob a forma de pó branco ou quase branco ou granulado. É isento de aroma e sabor.
    Propriedades
    Pelo fato de ser facilmente hidrolisado e digerido é um dos elementos mais importantes da alimentação humana. Além disso, a amilose forma géis firmes após o arrefecimento e tem grande tendência a precipitar, enquanto que a amilopectina apresenta gelificação lenta ou inexistente. O amido não é doce e não é solúvel em água fria.
    Aplicações
    Aplicado como espessante.
    Uso
    Na produção de filmes transparentes para empacotamento de produtos alimentícios, tais como o café instantâneo, sopas, chás e coberturas de salsichas, na preparação de pudins, molhos de carne e produtos assados. Faz os alimentos, tais como a margarina, pasta de amendoim, chocolate e assados, contendo gorduras, tornarem-se mais estáveis contra as variações de temperatura.
    Dosagem
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas.
    Goma Xantana
    Definição
    É um heteropolissacarídeo obtido a partir da fermentação de amido de milho por acção da bactéria Xanthomonas campestris.
    Ocorrência
    Ocorre como pó em tons de branco a amarelo pálido. Possui odor semelhante à terra. 
    Propriedades
    É definida por Baruffaldi como um hidrocolóide. As experiências demonstraram a inocência desta goma em concentrações permitidas. As soluções de goma xantana quando em baixas concentrações são pseudoplásticas, apresentam altos índices de viscosidade e ficam esmigalhadas quando é aplicada força. As suas soluções aquosas são neutras e as operações de bombeamento na fase de produção do alimento são facilitadas pela pseudoplasticidade fazendo com que produtos como por exemplo coberturas para saladas fluam com facilidade num recipiente ou garrafa.
    Também apresenta excelente estabilidade em valores do pH. Além de ser facilmente solúvel em água quente ou fria, em conjunto com outras gomas proporciona textura lisa e cremosa, alimentos líquidos com qualidade superior a muitas outras gomas.
    Aplicações
    Tem grande poder espessante; destaca-se também pelo seu efeito de potencial suspensor de elementos sólidos num meio líquido.
    Uso 
    É utilizada para a preparação de molhos para saladas, bebidas, geleias, produtos à base de carne, enlatados e sopas.
    Dosagem
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas.

    Goma Guar
    Descrição
    A goma guar é uma farinha feita de uma parte das sementes de uma planta leguminosa indiana chamada Cyamopsis tetragonolobus. Essas sementes contêm grandes quantidades de um polissacarídeo que é um espessante neutro, com muitas aplicações na indústria alimentar e química fina.
    Propriedades
    A goma guar é um poderoso espessante de curta textura mesmo em água fria. É neutro em aroma e sabor, tendo pouca ligação com outras moléculas de cadeia longa ou pequena, quer açúcares ou sais. A goma guar pode ser adicionada a qualquer fórmula para adquirir viscosidade, ligando ingredientes e reduzindo a perda de água.
    Aplicações
    As proporções que se devem utilizar são de 3 a 5 g/L, é insensível ao pH e tolerante a sais. É utilizado em pães e massas doces para dar maciez; em géis, receitas com frutas e produtos congelados para impedir a perda de água; no lugar do amido, açúcares e xaropes como uma fonte de viscosidade de baixa caloria; e em substituição de ovos e proteínas como um aglutinante em comida vegetariana.
    Uso 
    Em altas concentrações a goma guar é muito pegajosa e raramente é utilizada acima de 10 g/L, pois acima desta concentração a solução torna-se muito espessa. Misture com três a cinco vezes o seu peso em açúcar ou por outro ingrediente principal da receita e depois disperse na batedeira enquanto o bate rapidamente.
    Armazenamento
    Armazene em local seco e fresco, longe da luz directa do sol. Após a abertura pode ser mantido até 6 meses.

    Lecitina de Soja
    Definição
    É uma designação dada a uma mistura de glicolipídos, triglicerídios e fosfolipídios, descoberta em 1950. É extraída mecânica ou quimicamente do óleo de soja, das sementes de girassol ou do grão de trigo.
    Ocorrência
    Apresenta-se em forma de pó. Está presente nos ovos, mas também em diferentes sementes.
    Propriedades   
    Não é solúvel em água. Por serem moléculas relacionadas com lipídos, autorizam a retenção de água ou partículas de óleo com uma camada bipolar fina que melhora a sua homogeneidade e estabilidade. É reconhecida como produto seguro para o consumo humano, promove a elasticidade no caso da massa levedada dando-lhe mais volume, melhora a suavidade e evita o derramamento separando a gordura da proteína.
    Aplicações
    É um emulsionante alimentício, age como agente humidificador e antioxidante.
    Torna possível a mistura de dois líquidos que normalmente não se misturam, as suas moléculas melhoram a distribuição e estabilidade da gordura nas soluções.
    Emulsificador recomendado que pode substituir os ovos ou outras proteínas.
    Uso
    Ingrediente importante em produtos achocolatados, manteiga, massa de ovos em confecção e em sorvetes. É usado nas margarinas com alto teor de gordura, em molhos e espessantes para melhorar a textura, estabilizar e eliminar a gordura, e em chocolates para reduzir a viscosidade.
    Dosagem
    A dosagem usual recomendada é de 3600 - 4800 mg por dia. Em sorvetes gordurosos ou comida vegetariana 1 colher de chá por cada kg, em chocolates e massas é de 1 a 3 g/L. O valor calórico da lecitina é o da gordura 9 kcal/g. 
     
    Monoestearato de Glicerina/Mono e Diglicerídeos
    Definição
    Produto resultante de ácidos gordos destilados, composto por éster de glicerol e ácidos gordos.
    Ocorrência  
    Ocorre como pó de cor clara; apresenta-se em forma de escamas, pó grosso, granuloso, massa pastosa ou viscosa. Possui um baixo odor.
    Propriedades 
    É um estabilizante com óptimas propriedades e não incorpora odores desfavoráveis em emulsões alimentícias.
    Pequenas adições de mono e diglicerídeos a inúmeros produtos resultam nas seguintes propriedades: emulsão, suspensão, homogeneização, estabilização, ajuste de consistência, formação de bolhas de ar mais finas e também efeito espumante.
    Aplicações
    Produto usualmente utilizado na indústria de alimentos como emulsionante.
    Uso
    Em margarinas, cremes, bolos, barras de cereais e em diversas áreas alimentícias.
    Dosagem 
    De 0,2 a 1,0 % dependendo da característica do produto final.

    Maltodexterina N-Zorbit
    Definição
    É um carboidrato complexo de absorção gradativa proveniente da conversão enzimática do amido do milho, produto intermédio entre a rápida absorção e a lenta absorção. Contém polímeros de glicose compostos por açúcar unidos, que são fáceis de serem assimilados e utilizados pelo corpo.
    Ocorrência
    Apresenta-se em forma de pó de coloração branco sujo.
    Propriedades
    É metabolizado de forma lenta e constante, por isso age como repositor energético restabelecendo os níveis de glicogénio muscular e hepático utilizados durante a actividade física de longa duração. Garante a libertação de energia durante todo o treino retardando o aparecimento da fadiga porque proporciona a libertação gradual de glicose para o sangue. É estável, de baixa viscosidade e um bom emulsionante; estes atributos fazem com que seja ideal para encapsular sprays a seco.
    Aplicações 
    É recomendada como agente encapsulante para dar sabor aos óleos para uso em misturas secas, como bolos, pudins e bebidas, mas também é usado para encapsular temperos para aumentar a estabilidade do sabor no envelhecimento.
    Uso  
    Pode ser usado para perfumes e ser incorporado em detergentes e produtos de limpeza.
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas.
    Modo de preparação
    Pode ser disperso em água fria com agitação, mas é requerido o aquecimento de 60º C a 71º C para permitir solubilidade e funcionalidade excelentes.
    Transglutaminase
    Definição
    É uma cadeia simples de polipeptídio constituído por 331 aminoácidos. É uma enzima natural existente no organismo que actua como incentivador de reacções de polimerização e ligações entre moléculas de proteínas. As ligações resultantes da acção desta enzima são de grande estabilidade e ocorrem entre os aminoácidos glutamina e lisina, sendo assim esta transformação actua em todo o tipo de alimentos proteicos como o peixe, carne, tofu, gelatinas e farinhas. São largamente encontradas na natureza, no fígado e sangue dos mamíferos, no músculo do pescado e em micro-organismos.

    Ocorrência
    Apresenta-se como pó branco, amarelo pálido ou castanho-escuro, em forma de grumos, massa ou líquido castanho-escuro ou transparente.
    Propriedades 
    Possui forte poder de ligação que permanece mesmo quando os alimentos são congelados ou cozidos. Pode ser usada em todos os tipos de carnes, não comprometendo o sabor e aroma originais dos alimentos. É facilmente dissolvida em água, permite a obtenção de porções controladas, melhora a textura e a suculência, permite a reestruturação de aparas e pedaços de carne resultando em produtos semelhante a carne “in natura”. As ligações não são quebradas pelo aquecimento normal dos processos ou por forças físicas que possam ocorrer.
    Aplicações
    É útil na coagulação sanguínea.
    Uso
    Na indústria alimentar, no fabrico de enchidos e fiambres. Actualmente na cozinha é possível a sua utilização para criações mais ambiciosas, tais como a confecção de um esparguete 100% camarão, a criação de uma carne mista de vaca e peru, entre outras criações.
    Dosagem
    Deve ser utilizada uma quantidade de 0,6 - 1,5% do peso do produto.
    Modo de preparação   
    Dissolver a enzima em água na proporção de uma medida de enzima para 3 de água ou dissolver o pó directamente no produto, para um resultado mais rápido. Misturar até que toda a superfície seja coberta pela água ou quando não se utiliza água misturar bem. Deixar repousar aproximadamente 3 horas à temperatura de 5º C.
    A transglutaminase é altamente sensível à exposição ao oxigénio, assim após a abertura a sua validade máxima é de 30 dias, se obedecidas as condições rígidas de manuseamento. 
    Azoto líquido
    Definição
    O azoto líquido por vezes chamado de nitrogénio, é um elemento químico com o símbolo N e encontra-se principalmente na atmosfera, sob a forma de N2, representando em volume 78% do ar que respiramos, e na crosta terrestre em quantidades limitadas. Sob a forma orgânica encontra-se nas plantas e organismos vivos e sob a forma de mineral compõe o solo que contribui para a sua fertilidade.
    Ocorrência
    O azoto líquido ocorre sob a forma gasosa, é inerte, inodoro e incolor.
    É um gás que não mantém a vida.
    Propriedades
    Com o azoto líquido, o abaixamento da temperatura do produto é muito rápido, favorecendo a formação de pequenos cristais de gelo.
    O não crescimento dos cristais pela rápida passagem através do intervalo entre 0º C e -5º C evita o rompimento das paredes celulares e consequentemente o intenso deslocamento de água e nutrientes de dentro para fora das células na congelação e após a descongelação.
    Aplicação/Uso
    Permite que na confecção e preparação de gelados, estes tenham uma textura mais macia e agradável, visto formarem-se micro cristais.
    Dosagem
    Usar em quantidades recomendadas ou sugeridas nas receitas






    Equipamentos e Utensílios da Cozinha Molecular
     
    Para além dos equipamentos e utensílios da cozinha tradicional, a cozinha molecular recorre a materiais específicos com funções específicas.
    Tubo de silicone
    Ideal para a elaboração de massas através da gelificação.




    Seringa
    Ideal para criações na cozinha molecular, especialmente no processo da esferificação.




    Aladin Aromatic
    Esta é uma ferramenta brilhante para qualquer cozinheiro pois permite adicionar sabor e perfume de qualquer alimento, através de um sistema de fumaça.

    Tampa de vidro para Aladin Aromatic
    É um complemento indispensável para o Aladin Aromatic, pois é uma pequena tampa de vidro que tem uma pequena abertura através do qual se pode direccionar a fumaça do fumante Aladin Aromatic para o alimento. Uma vez que o fumo é introduzido na tampa, podemos apresentar o prato à mesa; a fumaça é libertada quando a tampa é levantada.


    fonte: http://moleculargastronomia.blogspot.com.br/