O mercado mudou, a tecnologia evoluiu, novas gerações estão
ditando mudanças em diversas áreas. Junto com o novo, o velho e
tradicional modo de fazer um curriculum vitae morreu. Pois é, sem dó,
nem piedade. E quem continuar apostando nas velhas práticas, pode se dar
mal.
Isso não quer dizer que este documento não continue sendo
pedido e que os candidatos devem deixar de fazê-lo, mas as coisas
mudaram bastante e neste artigo vou apresentar algumas ideias para fugir
do clichê e ser visto em meio a tantos candidatos.
Como era, como é
Quem se lembra daquela folha que comprávamos na papelaria e
preenchíamos à caneta, compondo o curriculum vitae? Era preciso seguir à
risca o que era pedido, não havia espaço para incluir informações
diferentes das que eram pedidas ali e nem sempre conseguíamos preencher
muitos campos, afinal, em outras épocas era bem mais difícil fazer
cursos e pós-graduações.
Depois disso, com a era digital, nos contentávamos em, com
dificuldade, usar um editor de textos para montar um currículo. Muita
gente até pediu pro amigo ou sobrinho, porque "não sabia mexer no
computador". Nesse formato digital escrevíamos mais do que devíamos, ou
menos do que o necessário. A formatação não ajudava, as informações
ficavam estranhas e desorganizadas e só quem era expert na ferramenta -
e com pensamento bem claro e organizado - conseguia fazer um currículo
legalzinho em .doc.
O próximo passo? Imprimir ou enviar por e-mail, o importante
era se livrar dele o quanto antes! Parece que o simples fato daquela
"batata quente" não estar mais com a gente, já significava algo como
"fiz minha parte, se não me contratarem a culpa não é minha".
Se depois de um tempo empregado o desemprego batesse a
porta, começávamos uma busca desenfreada nos cadernos de classificados
de jornais impressos e mais recentemente nos sites de emprego. Também
recorríamos a amigos, pedindo que eles nos indicassem em suas empresas
ou "caso soubessem de algo". O problema é que nem sempre esse amigo
realmente ajudava, às vezes nem queria você trabalhando com ele, mas
dizia que havia enviado o documento ao RH.
Se o currículo chega até o departamento de Recursos Humanos,
certamente será amoitado ou jogado fora, porque vamos combinar que nem
sempre existe uma gestão desses papeis ou arquivos, principalmente
quando não existe vaga disponível naquele momento. A verdade é que assim
que surgir uma vaga existe uma boa chance de grande parte das empresas
nem se lembrarem de olhar aquele arquivo, vão preferir anunciar a vaga
em algum lugar.
Um amontoado de promessas
Por muito tempo o currículo resumiu-se a um amontoado de
informações e promessas, muitas vezes vazias, às vezes enchedoras de
linguiça, às vezes reais e às vezes aumentadas. Tudo o que importou por
muito tempo foi a quantidade excessiva de informações e experiências
descritas ali. E como é hoje? Não necessariamente a quantidade enorme de
itens listados significará que alguém é bom. Nem sempre o que estudou
numa instituição renomada é melhor que o que buscou cursos na internet e
estudou sozinho. E se pensarmos em novas gerações, veremos saídas
rápidas de empregos, porque estamos diante de um pessoal que pensa
diferente: não é salário que vai prendê-los a um emprego.
Por muitos anos nos acostumamos com currículo repletos de
títulos de cargos que não nos diziam muito sobre a atuação do candidato,
vimos cursos ou experiências "nada a ver" com a vaga pretendida. Vimos
números de CPF, fotos e citações que não cabiam naquele momento. Cada um
fez seu currículo como quis, alguns acertaram e causaram boa impressão,
outros erraram feio e foram eliminados logo de cara, porque imagino, se
o currículo já era desorganizado e esquisito, o candidato devia ser
também.
Mas ai as coisas evoluíram e novas ferramentas surgiram,
como o LinkedIn. E o problema é que muita gente achou que ele se tratava
de um currículo on-line e replicaram o mesmo comportamento que tinham
com o currículo de papel. Acreditaram que bastava preencher alguns
campos e pronto, um emprego milagroso pularia na tela do computador.
Quer uma comparação? Na educação, muitos professores usaram tecnologias
da mesma forma que fariam no papel, apenas digitalizaram uma folha para
exibi-la no projetor multimídia, igual fariam num retroprojetor. Foi
isso o que muita gente fez com as redes sociais e as ferramentas focadas
em profissões e emprego.
E o tradicional currículo morreu
Para mim, hoje o currículo ou o processo de enviar um
currículo virou algo como "quero concorrer à vaga", só isso. Uma espécie
de assinatura digital, de aceite, e nada mais.
Lendo um currículo eu não consigo saber exatamente quem é a
pessoa, em alguns casos ele diz muito pouco. Em muitos casos eu preciso
eliminar por ser um documento tão ruim, tão malfeito, que tenho a
certeza de que a pessoa também trabalhará daquela forma se eu a
contratar.
Bato o olho nas informações e uma primeira impressão é
formada. Mas ai, eu vou dar uma olhada no Facebook, no LinkedIn, no
Google. Por mais que você me diga "ah, ali é vida pessoal", eu não
consigo não olhar. E entendo, sei separar vida pessoal numa boa. Não sou
recrutadora, apenas dirijo uma equipe e as vezes preciso contratar. Vou
adorar se o candidato tiver um blog, um texto escrito por ele em algum
lugar. ´É assim que eu costumo encontrar candidatos e geralmente são
esses que eu contrato. Em alguns casos um portfolio é essencial: e
acredite, ter um portfolio organizado pode fazer milagres.
Sou professora universitária e, por isso, acabo conhecendo
bastante gente. Meu marido também é. Existe algo ai que eu quero
revelar: já deixei de chamar pra entrevista ou contratar gente que
talvez fosse boa tecnicamente, mas que quando eu me lembrei de algum
comportamento que vi naquela pessoa quando ela foi meu aluno ou mesmo
quando meu marido me disse que não era um bom aluno, desisti na hora.
As pessoas se esquecem que nossa imagem deve ser única o
tempo todo. Temos vida pessoal, brincamos, saímos e alguns até bebem por
ai, são escolhas. Mas tudo está sendo observado e pode colocá-lo fora
de uma boa vaga, sem você nem imaginar. Se por um lado é preciso ser
flexível e entender que um bom profissional é um ser humano completo,
com vida pessoal e hobbies, não um robô que só trabalha, por outro, o
velho e conhecido bom-senso continua em alta.
A hora da entrevista
Bem, aí a pessoa vai para a entrevista e a verdade começa a
ser revelada. Em alguns casos o currículo era vago ou malfeito, mas a
pessoa se revelou um ótimo perfil. Deu sorte de ter sido chamada, o
currículo ruim poderia ter pesado contra.
Em outros, o currículo foi milimetricamente planejado, mas a
pessoa se revelou uma péssima opção ou eu percebi que tudo aquilo que
foi prometido no papel era forjado. E acredite, em muitos casos a pessoa
enviou o currículo sem ler a vaga, porque quando foi entrevistada não
cumpria nem metade dos requisitos pedidos. Isso diz muito sobre a
pessoa: desatenção. A verdade é que a entrevista começa no primeiro
contato e tudo está sendo observado.
Pois bem, se o tradicional currículo e aquele jeito velho de
fazê-lo e de se comportar morreu, você não deve ficar esperando que um
emprego apareça baseado nesse formato antigo de escrever um .doc,
enviá-lo por e-mail e aguardar o milagre. Apenas. Vá atrás! Hoje as
possibilidades são bem maiores que do que fazer apenas isso.
Conheci gente que foi contratada para uma vaga que não
existia, ele a criou. Enviou um e-mail para o CEO ou diretor do negócio
apresentando uma solução para algo ou algum tipo de análise sobre o
negócio ou website do lugar e voilá, ganhou uma vaga. E muita gente foi
vista a partir de artigos publicados no LinkedIn Pulse, por exemplo. É
uma ferramenta que pode trazer uma visibilidade incrível ao profissional
se for bem usada (no meu caso eu fiquei surpresa ao alcançar 10 mil
pessoas me seguindo e diversas propostas de trabalho ou participação em
eventos, pessoas que leram meus artigos e gostaram deles).
Um paralelo com o marketing de conteúdoVou fazer um paralelo: o marketing descobriu que diante de tanto conteúdo e tanta competição pela atenção das pessoas, apenas os bons conteúdos vão chamar a atenção de alguém. E ai começamos a estratégia de marketing de conteúdo, que busca entregar valor para sua audiência, resolver uma dor dela. Com o tempo, a marca se torna referência naquela área e educa o mercado, e ai provavelmente ela será a escolha do consumidor quando ele precisar comprar. Digamos que conseguir emprego virou isso: o quanto você é capaz de mostrar quem você é e o que pode realmente fazer. A era das promessas acabou, a época de escolher palavras lindas para enfeitar seu CV.doc já foi. Querem saber quem você é de verdade e quanto você consegue entregar, fazer, ser.
É por isso que o LinkedIn não deve ser usado como fazem do currículo tradicional. Não basta preencher: mostre-se, escreva um artigo. Dê a cara a tapa! Um portfolio também é muito potente, porque dependendo da área é preciso ver o que a pessoa foi capaz de realizar.
Nos próximos meses eu aposto que outras novas formas de currículo vão aparecer. Assim como já tem gente fazendo entrevista por Skype, vai ter gente se destacando ou empresas criando novos formatos: currículos em vídeo, vídeos integrados a PDFs dinâmicos, portfolios interativos, novos usos das ferramentas que já existem e outras ferramentas web específicas para esta finalidade.
Em resumo, a palavra de ordem agora é ser um fazedor, não um prometedor no papel. Você já pensou nisso como candidato? E como recrutador, você está aberto a novos modelos e processos?
Como a entrega de um documento para sinalizar seu interesse em uma entrevista ainda é exigida, veja algumas sugestões para sair do clichê e fazer um currículo bem mais atrativo.
No LinkedIn:
- Complete seu perfil com o máximo de informações possíveis;
- Tenha sempre uma foto, esses perfis são mais vistos. Atualize-se a cada 3 meses, mais ou menos, para mantê-la parecida com sua aparência atual;
- As fotos devem ser profissionais (acredite, tem gente que põe foto sem roupa, ressaltando o bíceps, com o cônjuge);
- Nunca escreva que seu cargo atual é "desempregado" ou equivalentes, isso dificulta a busca por recrutadores, que vão querer encontrar perfis de acordo com suas experiências;
- Movimente sua rede participando de grupos, comentando postagens, socializando, publicando artigos próprios e relevantes e parabenizando quem conquista algo novo, por exemplo;
- Siga empresas e influenciadores, mantenha-se atualizado e por dentro das novidades;
- Ao adicionar uma pessoa personalize a mensagem, diga o porque gostaria de adicioná-la, não seja mais um;
- Customize sua URL. Veja como fazer aqui;
- Use o http://resume.linkedinlabs.com/ para fazer currículos incríveis de forma automática, conectando-o aos seus dados do Linkedin.
*Flavia Gamonar é mestra em mídia e tecnologia, profissional especialista em marketing de conteúdo e pesquisadora sobre tendências digitais e inovação
Nenhum comentário:
Postar um comentário